O Casal




Estava a passear tanqüilo em torno de um lago
Passara as horas da tarde, caminhando até despontar
O ocaso, alaranjado, pensando lugubre e vago
Sobre a vida, e os tempos, já bem avançada, e a passar

Um casal sentado, sinérgicos, do outro lado daquele lago
Voltados com as faces para si, terminando em um olhar
Totalmente focado para si, o casal, como em um único afago,
Como um corpo só, os dos dois, uma partícula voando no ar...

Uma brisa serrava minha tez úmida no frio
Rebatido pelos raios de luz, e pálidos, de sol
Senti o cheiro de terra e folhas secando, creio
Que naquela tarde senti a paz merecida, lençol

Branco e macio revestido de mim e na forma como sou.
O casal ainda se olhava e os seios da face da menina
Tremiam como quem espera o contrário do ideal e usou
De algo não permitido pelos deuses. Para uma colina

Apontavam com seus olhos. Serenos e trágicos,
Amenos e sarcásticos. Via-se de tudo naqueles
Dois seres que ali se prostravam entre sí, mágicos...
Foi uma dádiva a tarde que passei na lagoa, então eles

Ainda meninos estavam como nada houvesse mais
No mundo ao seu redor, nem antes nem depois,
Como se a vida lhes colocasse ali, se amando e visto tais
Momentos de ternura desses que se vêem em romances, pois...

Lembrei de uma teoria que dizia que a vida é só de momento
E me senti, perante os dois amantes, vil, egoísta e pequeno
Tentando depois amansar a alma, pois coloquei ao relento
Meu coração pela vaidade do intelecto, esse ácido veneno...

Em minha mão repousava um livro do Neruda, o Poeta...
E lembrei-me que esqueci tudo isso há tempos passados
Nutrindo-me de fórmulas, números, conceitos: minha dieta
Sutil dos simbolos reverenciados pelos meios abastados

E esqueci-me do quanto me secara esse dom de dourada fonte
Enquanto ali mesmo meus olhos lacrimejavam sobre a terra
As quimeras por mim não conquistadas, sonhos e minha fronte
Já atestava em suas rugas o arrepemdimento e a dor que me descerra

O dessaber do que me era mais importante na vida.
E em meus olhos, úmidos pelas lágrimas desmedidas
Represadas, lubrificavam-me a visão e refletiam uma batida
De um coração, egoísta, que fez de sua felicidade uma vendida

Pelas coisas mundanas, passageiras, vis e hedonistas
Que me encontra neste breve momento um sutil arrependimento
Ao ver, através das lágrimas, e de meus olhos solecistas
A cantiga de mais puro amor entre dois seres naquele momento

Enquanto, sem coragem, encarava, de lado, o casal se beijando
Puro como a luz da manhã, dourada em céu azul, e um ardor
Cintilava puro e brilhante e um calor fulgurante, e titubeando
Percebi que nessa vida de tudo que façamos importa mais o amor